escritor do mês: José Saramago

domingo, 26 de junho de 2011

Visita à Casa da Escrita

No dia 21 de Junho, penúltimo dia de aulas, a minha turma, o 10ºC, passou a manhã na Casa da Escrita da Cidade.
Acompanhada pelas professoras de Biologia, Isolina Melo, e de Português, Manuela Franco ,tivemos uma agradável visita, guiada pelo escritor João Rasteiro que nos contou a história do edifício, magnificamente restaurado, e como ele estava ligado ao movimento literário do neo-realismo.
 Acabámos sentados à volta de uma grande mesa, no último andar, e cada um dos sete grupos de alunos leu o conto que tinha produzido na última oficina de escrita - fábrica de contos, com os seguintes títulos: Os condenados; O poder do sonho; O contraste; Luta pela Victória; O estranho caso de Kajó; Voz de esperança e A mulher misteriosa.
Não os publicamos aqui porque são muito extensos. Mas para abrir o apetite seguem os guiões de dois contos.


Grelha Estrutural do Conto de Paul Larivaille


GRUPO 6: David; JP; Rodrigo; Laura
 
                                                                                                
 Título: Os Condenados

  • Situação inicial: Dois irmãos, Fernando e Alexandre, viviam de maneiras diferentes. Fernando era muito inteligente e esforçava-se por obter uma boa vida. Pelo contrário, Alexandre vivia sem esforço, não tinha trabalho, apenas fazia alguns “serviços” ilegais.
  • Acontecimento perturbador: Um dia, Alexandre foi chamado para cometer um assassínio, mas, quando chegou ao local, o homem já estava morto. Entretanto, a polícia apareceu e Alexandre foi preso injustamente, julgado e condenado .
Dinâmica do desequilíbrio:
  • S1 Alexandre jura a Fernando que está inocente e este acredita.
  • S2 Alexandre, ao conviver com outros reclusos, vê que existem mais condenados inocentes.
  • S3 Confessa-o ao irmão e este decide tirá-los lá de dentro.
  • S4 Para pensar num plano, precisa de conhecer todos os pormenores da prisão.
  • S5 Descrição do espaço.
  • S6 Descrição dos presos e suas relações e ocupações.
  • S7 Descrição dos guardas.
  • S8 Descrição do ambiente.
  • Força inversa rectificadora: Depois de estudar o caso do irmão e perceber que ele estava inocente, Fernando decide simular um assalto a um banco para ser preso e, já lá dentro, fugir com ele para o salvar da pena de morte.
  • Situação final: Ao fugirem levam uma terceira pessoa também inocente e, já fora da prisão, conseguem provar a sua inocência e recomeçam uma nova vida.




Grupo 4: Mariana, Ilda; Francisco e Joana
 
   Título: Luta pela Victória

  • Situação inicial: Victória Saldanha, 18 anos, Lisboa; vive num lar de acolhimento; a mãe é toxicodependente e prostituta; o pai é político profissional, não conhece a filha.
  • Acontecimento perturbador: morte da mãe – overdose; sai do lar; vê-se sozinha, sem casa nem família.
Dinâmica de Desequilíbrio
  • S1 – Procura o pai.
  • S2 – O pai rejeita-a e oferece-lhe dinheiro em troca de silêncio, importante para a imagem pública..
  • S3 – Vitória decide usar o dinheiro para estudar; recorre ao apoio da segurança social
  • S4 – Arranja part-time para despesas diárias e inicia curso de Assistência Social.
  • S5 – Acaba o curso e luta pelo seu maior objectivo – fundar uma instituição de apoio a crianças que estejam a viver a sua antiga situação com pais toxicodependentes.
  • S6 – Começa a trabalhar a tempo inteiro numa instituição e faz campanhas de recolha de fundos para juntar dinheiro para a sua fundação. Luta contra forças adversas.
  • S7 –  Luta e começa a subir de cargo, participa em campanhas nacionais, ganha credibilidade, angaria  dinheiro – instituição
  • S8 – Começa a criar a instituição, luta e ultrapassa os obstáculos e complicações – funda a instituição
  • Força inversa rectificadora: orgulho de Victória pela conquista; a fundação é reconhecida;
  • Situação final – sente-se realizada, útil, ajuda muitas pessoas; visita a campa da mãe; conhece novo amor; tem paz, amor e muda o mundo.



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ESCRITOR DO MÊS

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JOSÉ SARAMAGO

JOSÉ SARAMAGO

"A meio deste mês de Outubro será publicado, em Portugal e no Brasil, Claraboia, o romance que José Saramago escreveu antes de entrar num tempo de silêncio que durou quase 20 anos, e que, de alguma maneira, teve a sua origem na falta de respeito com que o autor se sentiu tratado. José Saramago, com 30 anos recém cumpridos, entregou o que supunha vir a ser o seu segundo romance a um amigo, com relações editoriais, que se encarregou de levá-lo a uma editora portuguesa. Que nunca o editou, decisão que Saramago poderia aceitar, mas nunca daquela forma, durante meses e anos não lhe responderam e, para além disso, não devolveram o original. Foi assim até quarenta anos depois, quando recebeu a insólita notícia de que “numa mudança de instalações se havia encontrado um manuscrito e que estariam muito interessados em publicar”. Saramago agradeceu a oferta mas, disse, já não é o momento, já passaram muitos anos. E não quis ver publicada Claraboiaem vida, ainda que tenha deixado escrito que os que lhe sobrevivessem poderia fazer o que pensassem conveniente.

E o conveniente é conhecer o primeiro Saramago, o que já era um grande escritor ainda que os meios de comunicação não falassem dele e as editoras recusassem os seus originais. A partir de Outubro, todos os leitores em português terão a possibilidade de desfrutar deste presente, desta pequena e madura jóia. Outros idiomas terão de esperar, ainda que talvez na primavera os leitores em castelhano, catalão e italiano, possam ter oportunidade de ter este livro de Saramago nas mãos, para aumentar a sua bagagem, para disfrutar com a grande literatura." josesaramago.org

Excerto
«Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de loiça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rijamente as articulações dos braços. Por baixo da camisola, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pela das palmas tão espessa que podia passar-se nela, sem sangrar, uma agulha enfiada.
Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e as rótulas tornadas brancas pela fricção das calças que lhe desbastavam os pelos entristeciam e desolavam profundamente Silvestre. Orgulhava-se do seu tronco, sem dúvida, mas tinha raiva das pernas, tão enfezadas que nem pareciam pertencer-lhe.
Contemplando com desalento os pés descalços assentes no tapete, Silvestre coçou a cabeça grisalha. Depois passou a mão pelo rosto, apalpou os ossos e a barba. De má vontade, levantou-se e deu alguns passos no quarto. Tinha uma figura algo quixotesca, empoleirado nas altas pernas como andas, em cuecas e camisola, a trunfa de cabelos manchados e sal-e-pimenta, o nariz grande e adunco, e aquele tronco poderoso que as pernas mal suportavam.
Procurou as calças e não deu com elas. Estendendo o pescoço para o lado da porta, gritou:
- Mariana! Eh, Mariana! Onde estão as minhas calças?
(Voz de dentro:)
- Já lá vai!
Pelo modo de andar, adivinhava-se que Mariana era gorda e que não poderia vir depressa. Silvestre teve de esperar um bom pedaço e esperou com paciência. A mulher apareceu à porta:
- Estão aqui.
Trazia as calças dobradas no braço direito, um braço mais gordo que as pernas de Silvestre. E acrescentou:
- Não sei que fazes aos botões das calças, que todas as semanas desaparecem. Estou a ver que tenho de passar a pregá-los com arame…
A voz de Mariana era tão gorda como a sua dona.»