escritor do mês: José Saramago

segunda-feira, 7 de março de 2011

Quase poetas



Morre lentamente...


Morre lentamente aquele que assim o quer,
Aquele que não vive,
Que se senta em sonhos inacabados,
Num mundo de riqueza,
Sem quaisquer ambições.

Morre lentamente quem finge ser o que não é,
Quem diz que sente quando não sente,
Quem diz que ama quando não ama,
Quem mente, quem engana,
Morre-se assim, infelizmente.

Morre lentamente aquele que não abre os olhos,
Que não quer ver,
Que vê, mas nega,
Aquele que volta as costas para o sol,
Que vive das sombras e do consentimento.

O que não gosta da vida,
O que não quer viver,
Esse sim, morre lentamente
Desperdiça cada minuto de vida com lamentos,
Desgostos e amarguras.

Morre lentamente aquele que cai,
E não se quer levantar,
Aquele que se contenta com o mau, com o mínimo
Aquele que não anseia por mais
E que por aí ficou na vida.

Morre lentamente aquele que assim o quer.
 Mariana Oliveira


Morre lentamente quem ama e não sente
Morre lentamente quem sente, mas não ama.

Quem vive de mãos dadas com o medo
Quem não arrisca em segredo
Quem não tem um mistério seu
Só teu e meu.


Morre lentamente aquele que não ousa sonhar
Morre lentamente quem nem sonha ousar

Quem não renova a alma em cada sentimento
Quem vive em sofrimento
Quem não dá o perdão
Ao seu irmão.

Nadejda Licova








Mote:
É tão bom não ter juízo!
Ser um rapaz com juízo?
Ah, isso não é preciso.

Mote:
É tão bom não ter juízo!
Ser um rapaz com juízo?
Ah, isso não é preciso.

Poema:
Estudar e ter atenção
E ouvir sempre a lição.
Em casa tudo rever
Para estar sempre a aprender
Fazer sempre o tpc
E tudo isto para quê?
Ser um rapaz com juízo?
Ah, isso não é preciso

Luís, não vês televisão!
Computador também não!
O Gameboy? Nem pensar!
Vais mas é trabalhar
Isso nada é que preste
E amanha tens um teste.
Sê um rapaz com juízo!
Ah, isso não é preciso.
Luís Cruzeiro


É tão bom não ter juízo!


Ser um rapaz com juízo?
Ah! Isso não é preciso!

Apanhar chuva na estação
E uma grande constipação
Rir sem parar
Porque não se pode espirrar
Correr e abraçar
Qualquer pessoa que encontrar

É tão bom não ter siso
É tão bom não ser conciso
A dar uma explicação
Fazer o pino com uma mão
E ver o mundo de antemão…

É tão bom não ter juízo!
Ser um rapaz com juízo?
Ah! Isso não é preciso!

Nadejda Licova 

Fases da Vida

Ser criança é bom.
É estar em família.
Viver uma vida devagar,
sem corrida,
sem preocupaões
nem visões do futuro.

Ser jovem é ainda melhor.
É fazer amizade.
Pensar no amor:
explorá-lo e reparti-lo
por quem nos apetece.

Adulto é idade estável.
Trabalhamos e quase vivemos
com esse propósito.
É vida dura que perdura.

Ao envelhecermos, é diferente.
Ser velho não é assim tão bom:
velho conhece a morte.
Velho é o humano que da sua juventude foi roubado.
Pela família aos poucos abandonado.
Já com pouca amizade,
é hora de voltar à realidade.
Realidade escura como a noite
sem o brilho das estrelas.
Resta-lhe apenas relembrar o passado
com a impossível esperança de o reviver
e o fazer durar para sempre.
Como uma bolha de sabão que não rebenta.
Ser velho é solidão.
Francisco Soutinho

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ESCRITOR DO MÊS

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JOSÉ SARAMAGO

JOSÉ SARAMAGO

"A meio deste mês de Outubro será publicado, em Portugal e no Brasil, Claraboia, o romance que José Saramago escreveu antes de entrar num tempo de silêncio que durou quase 20 anos, e que, de alguma maneira, teve a sua origem na falta de respeito com que o autor se sentiu tratado. José Saramago, com 30 anos recém cumpridos, entregou o que supunha vir a ser o seu segundo romance a um amigo, com relações editoriais, que se encarregou de levá-lo a uma editora portuguesa. Que nunca o editou, decisão que Saramago poderia aceitar, mas nunca daquela forma, durante meses e anos não lhe responderam e, para além disso, não devolveram o original. Foi assim até quarenta anos depois, quando recebeu a insólita notícia de que “numa mudança de instalações se havia encontrado um manuscrito e que estariam muito interessados em publicar”. Saramago agradeceu a oferta mas, disse, já não é o momento, já passaram muitos anos. E não quis ver publicada Claraboiaem vida, ainda que tenha deixado escrito que os que lhe sobrevivessem poderia fazer o que pensassem conveniente.

E o conveniente é conhecer o primeiro Saramago, o que já era um grande escritor ainda que os meios de comunicação não falassem dele e as editoras recusassem os seus originais. A partir de Outubro, todos os leitores em português terão a possibilidade de desfrutar deste presente, desta pequena e madura jóia. Outros idiomas terão de esperar, ainda que talvez na primavera os leitores em castelhano, catalão e italiano, possam ter oportunidade de ter este livro de Saramago nas mãos, para aumentar a sua bagagem, para disfrutar com a grande literatura." josesaramago.org

Excerto
«Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de loiça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rijamente as articulações dos braços. Por baixo da camisola, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pela das palmas tão espessa que podia passar-se nela, sem sangrar, uma agulha enfiada.
Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e as rótulas tornadas brancas pela fricção das calças que lhe desbastavam os pelos entristeciam e desolavam profundamente Silvestre. Orgulhava-se do seu tronco, sem dúvida, mas tinha raiva das pernas, tão enfezadas que nem pareciam pertencer-lhe.
Contemplando com desalento os pés descalços assentes no tapete, Silvestre coçou a cabeça grisalha. Depois passou a mão pelo rosto, apalpou os ossos e a barba. De má vontade, levantou-se e deu alguns passos no quarto. Tinha uma figura algo quixotesca, empoleirado nas altas pernas como andas, em cuecas e camisola, a trunfa de cabelos manchados e sal-e-pimenta, o nariz grande e adunco, e aquele tronco poderoso que as pernas mal suportavam.
Procurou as calças e não deu com elas. Estendendo o pescoço para o lado da porta, gritou:
- Mariana! Eh, Mariana! Onde estão as minhas calças?
(Voz de dentro:)
- Já lá vai!
Pelo modo de andar, adivinhava-se que Mariana era gorda e que não poderia vir depressa. Silvestre teve de esperar um bom pedaço e esperou com paciência. A mulher apareceu à porta:
- Estão aqui.
Trazia as calças dobradas no braço direito, um braço mais gordo que as pernas de Silvestre. E acrescentou:
- Não sei que fazes aos botões das calças, que todas as semanas desaparecem. Estou a ver que tenho de passar a pregá-los com arame…
A voz de Mariana era tão gorda como a sua dona.»