escritor do mês: José Saramago

domingo, 19 de junho de 2011

Que viva a Arte

Estudámos o conto, “ Aquele azul”, de Maria Judite de Carvalho. 
No final, já quase toda a turma comprava o conto. 
Só gostamos, quando compreendemos.


Que viva a Arte


A Arte é algo que é apreciado por todos nós e que nos influencia de diferentes modos, no nosso dia-a-dia.
Quando nos referimos à arte, esta abrange um número variado de coisas, tais como a música, a pintura, a escrita, a arquitectura e através delas nós entramos noutros mundos de conhecimento, de intuição, de sensibilidade e de beleza.
No caso dos adolescentes, por exemplo, estando nós num processo de descoberta do mundo e dos outros, a arte tem um grande impacto no nosso crescimento, pois confronta-nos com diferentes formas de ver e de sentir e, actualmente, com as novas tecnologias, estamos inteiramente ligados aos mestres e artistas de todo o mundo, basta um clique no youtube. Certos adolescentes, para se afirmarem, vestem-se de outro modo e recorrem ao vestuário para se exprimirem, para dizerem do que gostam e com quem se identificam, alguns conseguem mesmo fazer arte na sua imagem extravagante. É a arte que nos ajuda a sermos nós próprios, a demonstrarmos o que nos vai na alma.
Criar é um processo misterioso, quando pegamos num instrumento, caneta, violino, voz, tintas, pedra, madeira e dizemos e agora, o que vais fazer, a mão conduz-nos para um caminho novo, para um lado de nós que desconhecemos, mas que sai do nosso interior… da verdade de cada pessoa. Daí ser honesta, feita com paixão e espaço de liberdade.
A arte ensina-nos a ver o mundo com outros olhos e quando a descobrimos, gostamos e exigimos a sua presença naquele azul ou naquela canção.


Mariana Oliveira


Somos influenciados pela arte?

Todos os dias ouvimos falar de quadros maravilhosos, filmes espectaculares e músicas inovadoras! Mas será que estas formas de arte têm a mínima implicação na nossa forma de viver e de ser?
    Por um lado, acho que têm alguma influência, pois, pontualmente, os pais levam os filhos aos museus, espectáculos, livrarias ou a dar um passeio cultural, por exemplo, na esperança de que essas visitas possam formar a mentalidade dos filhos. Ao apreciar um quadro, ao ouvir uma melodia, ao ver uma dança ou ao ler um bom livro, vai-se adquirindo sensibilidade estética, noção do belo, gosto pelo conhecimento, enfim, um conjunto de aptidões que, sem dúvida, irão ser marcantes na personalidade de cada um. E essa marca só pode ser positiva, pois enriquece-nos a todos os níveis.
    Por outro lado, acho que, actualmente, as pessoas interessam-se cada vez menos pelas actividades culturais optando, muitas vezes, por actividades mais fúteis que não as fazem crescer tanto intelectualmente. Lembro, por exemplo, que há jovens que preferem jogar computador ou ver televisão horas a fio, passivamente, em vez de irem ao museu ou à feira do livro ou mesmo a um bailado. Este atitude é empobrecedora do ponto de vista intelectual, cultural e humano.
    Assim, há que mudar mentalidades para que a Arte possa ser vista como um bem na vida de cada um. O sistema de ensino tem aqui uma forte responsabilidade, na medida em que pode dar um forte contributo para cativar os jovens para a Arte.

Luís Cruzeiro




O que é a arte? 


O que é a arte? A arte, para muitos, pode ser um simples estímulo visual ou auditivo, mas apenas uma ínfima parte da população entende verdadeiramente o que é a arte.
A arte, segundo Stuart Mill, é um valor superior que só pode ser atingido quando há a total harmonia do ser racional com o emocional, quando a pessoa, ao contrário das outras que a rodeiam, consegue experienciar e captar o sentido da arte e viver a partir daí sentimentos que nunca pensou que existissem, pois sente uma tal elevação sensível, cultural e espiritual que não sabe, se está num sonho ou na realidade. Está, na verdade, a viver a arte.
A cultura e o saber são bens que apenas os mais intelectuais atingem e percebem, e eu desejo entender e viver esses bens e valores supremos que distinguem a Pessoa do ser comum com tal paixão, que sou incapaz de explicar pelas palavras simples e resumidas deste texto o quanto quero sentir o entendimento das obras-primas.
É isto que eu penso da arte e é isto que eu quero sentir quando acabar a eterna procura por este valor intangível e, finalmente, perceber “A Noite Estrelada” de Van Gogh que uns dizem ser de loucura, mas eu digo ser para lá da lucidez. 


Alexandre Loureiro
 

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ESCRITOR DO MÊS

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JOSÉ SARAMAGO

JOSÉ SARAMAGO

"A meio deste mês de Outubro será publicado, em Portugal e no Brasil, Claraboia, o romance que José Saramago escreveu antes de entrar num tempo de silêncio que durou quase 20 anos, e que, de alguma maneira, teve a sua origem na falta de respeito com que o autor se sentiu tratado. José Saramago, com 30 anos recém cumpridos, entregou o que supunha vir a ser o seu segundo romance a um amigo, com relações editoriais, que se encarregou de levá-lo a uma editora portuguesa. Que nunca o editou, decisão que Saramago poderia aceitar, mas nunca daquela forma, durante meses e anos não lhe responderam e, para além disso, não devolveram o original. Foi assim até quarenta anos depois, quando recebeu a insólita notícia de que “numa mudança de instalações se havia encontrado um manuscrito e que estariam muito interessados em publicar”. Saramago agradeceu a oferta mas, disse, já não é o momento, já passaram muitos anos. E não quis ver publicada Claraboiaem vida, ainda que tenha deixado escrito que os que lhe sobrevivessem poderia fazer o que pensassem conveniente.

E o conveniente é conhecer o primeiro Saramago, o que já era um grande escritor ainda que os meios de comunicação não falassem dele e as editoras recusassem os seus originais. A partir de Outubro, todos os leitores em português terão a possibilidade de desfrutar deste presente, desta pequena e madura jóia. Outros idiomas terão de esperar, ainda que talvez na primavera os leitores em castelhano, catalão e italiano, possam ter oportunidade de ter este livro de Saramago nas mãos, para aumentar a sua bagagem, para disfrutar com a grande literatura." josesaramago.org

Excerto
«Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de loiça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rijamente as articulações dos braços. Por baixo da camisola, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pela das palmas tão espessa que podia passar-se nela, sem sangrar, uma agulha enfiada.
Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e as rótulas tornadas brancas pela fricção das calças que lhe desbastavam os pelos entristeciam e desolavam profundamente Silvestre. Orgulhava-se do seu tronco, sem dúvida, mas tinha raiva das pernas, tão enfezadas que nem pareciam pertencer-lhe.
Contemplando com desalento os pés descalços assentes no tapete, Silvestre coçou a cabeça grisalha. Depois passou a mão pelo rosto, apalpou os ossos e a barba. De má vontade, levantou-se e deu alguns passos no quarto. Tinha uma figura algo quixotesca, empoleirado nas altas pernas como andas, em cuecas e camisola, a trunfa de cabelos manchados e sal-e-pimenta, o nariz grande e adunco, e aquele tronco poderoso que as pernas mal suportavam.
Procurou as calças e não deu com elas. Estendendo o pescoço para o lado da porta, gritou:
- Mariana! Eh, Mariana! Onde estão as minhas calças?
(Voz de dentro:)
- Já lá vai!
Pelo modo de andar, adivinhava-se que Mariana era gorda e que não poderia vir depressa. Silvestre teve de esperar um bom pedaço e esperou com paciência. A mulher apareceu à porta:
- Estão aqui.
Trazia as calças dobradas no braço direito, um braço mais gordo que as pernas de Silvestre. E acrescentou:
- Não sei que fazes aos botões das calças, que todas as semanas desaparecem. Estou a ver que tenho de passar a pregá-los com arame…
A voz de Mariana era tão gorda como a sua dona.»