escritor do mês: José Saramago

domingo, 19 de junho de 2011

Contrato de leitura - Texto de contracapa de contos

Nadejda Licova


Miguel Torga
Alma Grande


“ -Tio Alma-Grande! Ó Tio Alma-Grande!
 - Lá vai….
Daí a nada a tenaz das suas mãos e o peso do seu joelho passavam guia ao moribundo”

Quando um infeliz se debatia nas garras da morte subiam ao Destelhado para chamar o Alma-Grande, um padre que silenciava o moribundo para a eternidade.
Quando o Alma-Grande se preparava para o trabalho de silenciar mais uma alma, Isaac que lutava pela vida há quinze dias devido a uma febre, foi interrompido pelo ranger de uma porta e de um vulto, era o seu filho mais novo.
Pela primeira vez o Alma Grande saiu do quarto, lívido e humilhado, pois tinha deixado a vida continuar e esta não lhe trazia glória.
Alguns dias depois Isaac tinha melhorado, mas trazia consigo o desejo incontrolável de vingança, o filho de Isaac uma necessidade de compreender e o Alma Grande um sentimento de culpa.
Qual é o desenlace da história?
A vingança cumpriu-se ou o perdão aconteceu?
Leia e descubra!




Adolfo Correira da Rocha, conhecido pelo pseudónimo literário de  Miguel Torga, nasceu em 1907 em S. Martinho da Anta.
Frequentou o seminário em Lamego e mais tarde partiu para o Brasil. Regressou depois e matriculou-se na Faculdade de Medicina.
Casou-se com Andrée Crabbé em 1940 e teve uma filha.
Ganhou o Grande Prémio Internacional de Poesia e o Prémio Camões.
Toda a sua obra é a expressão de um indivíduo que pensa a vida e o mundo e tremendamente ligado à sua terra natal.
Faleceu em 1995.


Novos Contos da Montanha


Tiago Costa

Contos de Mia Couto
Bartolominha e o Pelicano

 António Emílio Leite Couto (Mia couto) nasceu na Beira a 5 de Julho de 1955. Filho de portugueses emigrados em Moçambique, ali estudou. Com 14 anos publicou os seus primeiros poemas. Em 1971 iniciou os estudos em Medicina, mas depois deixou-os para enveredar pelo jornalismo. Trabalhou na Tribuna e depois foi director da AIM, a seguir trabalhou na revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985, de onde se demitiu e licenciou-se  Biologia. Hoje é um escritor e poeta famoso.

“…Bastante António morreu quando subia a enorme escada em caracol. Seu corpo subia mais rápido que o coração. Num segundo essa intermitente luz de dentro deixou de lhe iluminar o peito.”



 É numa ilha onde o farol se destaca, o seu faroleiro morreu e deixou a mulher, Bartolominha, sozinha. O neto ao saber da ocorrência tenta-a convencer, de várias maneiras, a deixar a ilha, mas a avó não deixa o seu posto no farol, em que pode contar com um fiel pelicano que a sustenta e a faz sonhar. O neto não desiste e alicia-a, mas sem sucesso. Numa noite o ambiente muda e tudo se torna confuso e revelador, os sonhos parecem verdade e o sobrenatural revela a explicação do sonho de Bartolominha. Depois dessa noite o neto que queria tirar a sua avó da ilha torna-se no que o seu avô tanto amava. Que segredo tem o farol? Lê!



Paulo Carvalho 

“Ela vai contigo…
-Mas que superioridade «prima»? Um anjo que entende de cifras!
Pela primeira vez na sua vida Maria da Piedade corou com a palavra dum homem…”


  Biografia
José Maria de Eça Queirós nasceu a Novembro de 1845 na Póvoa do Varzim e faleceu em Paris em 1900. Estudou no colégio da Lapa no Porto até entrar parar Direito na Universidade de Coimbra.
Pertenceu à Geração de 70 que introduziu o Realismo em Portugal.
Em Lisboa exerceu advocacia e jornalismo. Na sua vida colaborou, fundou, dirigiu e escreveu para vários jornais e revistas. Viveu em França, Inglaterra, Egipto, Palestina e Havana exercendo cargos universitários e diplomáticos. Foi autor, entre outros romances de reconhecida importância, de Os Maias e O crime do Padre Amaro;
Obras: · A Cidade e as Serras · A Ilustre Casa de Ramires · A Relíquia · A Tragédia da Rua das Flores · As Farpas · Contos e Prosas Bárbaras · O Mandarim · O Mistério da Estrada de Sintra · O Primo Basílio  · Uma Campanha Alegre


No Moinho
    Maria da Piedade era uma mulher bela, vivia fechada em casa com o marido inválido, enfiado numa cama e com os filhos doentes com tumores nos ouvidos.
 Até que chega o dia em que o primo do seu marido, escritor famoso, vem de Lisboa para uma venda da única casa não hipotecada da sua herança. A personagem acompanha o primo e o que é que acontece?
    A partir dali Maria da Piedade descobre outra pessoa dentro dela. Com medo, Piedade refugia-se em casa e Adrião regressa para a sua cidade.
 Maria da Piedade desenvolve a imagem de Homem Ideal baseada em Adrião e imagina outras vidas que pode viver. Deixa os filhos e o marido em casa   e parte à procura de um sonho…ou da sua perdição?
 Quente, apaixonante, intrigante. O que descobriu esta mulher?

Editora 
PPaulo

 Alexandre Loureiro

Edgar Allan Poe (1809-1849) é um escritor norte-americano, autor de diversas obras no campo do fantástico e do misterioso, tais como: “A Queda da casa de Usher”, “Aventuras de Gordon Pym” e o poema “O corvo”, que lhe valeu a sua fama e prestígio.
    A sua morte prematura com apenas 40 anos deveu-se ao seu problema de alcoolismo, o que se reflecte em alguns dos seus contos como o mal que leva as suas personagens a cometer loucuras.




 “A caixa longa” in Histórias Extraordinárias       
             “A caixa em questão era, como já disse, longa. […] A forma era estranha e […] largava um cheiro forte, desagradável e, para o meu gosto, particularmente repelente”.
 

    Numa aparentemente calma viagem de barco, um homem decide desvendar o mistério que paira sobre o conteúdo de uma caixa com estranha forma e esquisito cheiro.
As suposições do homem levam-no a pensar em contrabando de obras de arte, pois a forma da caixa leva-o a supor ser a obra-prima de Leonardo DaVinci, “A Última Ceia”. 
Mas quando, numa tempestade em alto mar, o barco é totalmente destruído, e os seus tripulantes são obrigados a escapar de bote, a insanidade de um dos tripulantes leva-o a mudar repentinamente os seus pensamentos sobre tudo o que lhe parecia verdade. 
Uma história de morte e engano, onde é garantida a surpresa num final imprevisto e em que tudo o que o leitor pensa saber é na verdade um embuste.


Editora Alexandre Loureiro
Av. Das Metáforas, Rua nº1, edifício 10ºC


Francisco Soutinho

Como noutros contos, é n’ ”O Morto” que Vergílio Ferreira emprega o seu humor ao satirizar situações que na vida real não teriam assim tanta graça. Trata-se de um morto cujo funeral é constantemente adiado devido a uma rivalidade entre dois grupos (que defendem os mesmos ideais) que reclamam e reivindicam o cadáver para o enterrar da maneira que cada grupo acha que o falecido merece. Ao fim e ao cabo, a famíla chora, o padre espera, o sacristão segura a cruz... e morto que é morto, continua morto! Mas  foi enterrado, clandestinamente, sem ninguém saber. Alguém decidiu resolver o assunto com as suas próprias mãos... Quem terá sido?


“Armou-se então um arraial de pancadaria entre os dois grupos, com as bandeiras viradas ao contrário, porque o cabo era desse lado. Havia já cabeças rachadas e o coveiro não sabia se tinha de abrir outras covas. Quanto ao morto, estava de parte, lá para a capela, todo coberto de cravos. (...) Quanto ao padre, atrapalhado com as fraldas da batina, fugiu atrás do sacristão, que também fugia com a cruz ao alto.”




Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, a 28 de Janeiro de 1916 e morreu em Lisboa a 1 de Março de 1996. Foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX, realço, Aparição, romance que certamente se salientou na sua extensa e bela obra literária. Galardoado com o Prémio Camões em 1992, foi ainda ensaísta e foi como professor que calcorreou por esse Portugal fora, que tanto o inspirou nas suas obras.





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ESCRITOR DO MÊS

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JOSÉ SARAMAGO

JOSÉ SARAMAGO

"A meio deste mês de Outubro será publicado, em Portugal e no Brasil, Claraboia, o romance que José Saramago escreveu antes de entrar num tempo de silêncio que durou quase 20 anos, e que, de alguma maneira, teve a sua origem na falta de respeito com que o autor se sentiu tratado. José Saramago, com 30 anos recém cumpridos, entregou o que supunha vir a ser o seu segundo romance a um amigo, com relações editoriais, que se encarregou de levá-lo a uma editora portuguesa. Que nunca o editou, decisão que Saramago poderia aceitar, mas nunca daquela forma, durante meses e anos não lhe responderam e, para além disso, não devolveram o original. Foi assim até quarenta anos depois, quando recebeu a insólita notícia de que “numa mudança de instalações se havia encontrado um manuscrito e que estariam muito interessados em publicar”. Saramago agradeceu a oferta mas, disse, já não é o momento, já passaram muitos anos. E não quis ver publicada Claraboiaem vida, ainda que tenha deixado escrito que os que lhe sobrevivessem poderia fazer o que pensassem conveniente.

E o conveniente é conhecer o primeiro Saramago, o que já era um grande escritor ainda que os meios de comunicação não falassem dele e as editoras recusassem os seus originais. A partir de Outubro, todos os leitores em português terão a possibilidade de desfrutar deste presente, desta pequena e madura jóia. Outros idiomas terão de esperar, ainda que talvez na primavera os leitores em castelhano, catalão e italiano, possam ter oportunidade de ter este livro de Saramago nas mãos, para aumentar a sua bagagem, para disfrutar com a grande literatura." josesaramago.org

Excerto
«Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de loiça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rijamente as articulações dos braços. Por baixo da camisola, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pela das palmas tão espessa que podia passar-se nela, sem sangrar, uma agulha enfiada.
Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e as rótulas tornadas brancas pela fricção das calças que lhe desbastavam os pelos entristeciam e desolavam profundamente Silvestre. Orgulhava-se do seu tronco, sem dúvida, mas tinha raiva das pernas, tão enfezadas que nem pareciam pertencer-lhe.
Contemplando com desalento os pés descalços assentes no tapete, Silvestre coçou a cabeça grisalha. Depois passou a mão pelo rosto, apalpou os ossos e a barba. De má vontade, levantou-se e deu alguns passos no quarto. Tinha uma figura algo quixotesca, empoleirado nas altas pernas como andas, em cuecas e camisola, a trunfa de cabelos manchados e sal-e-pimenta, o nariz grande e adunco, e aquele tronco poderoso que as pernas mal suportavam.
Procurou as calças e não deu com elas. Estendendo o pescoço para o lado da porta, gritou:
- Mariana! Eh, Mariana! Onde estão as minhas calças?
(Voz de dentro:)
- Já lá vai!
Pelo modo de andar, adivinhava-se que Mariana era gorda e que não poderia vir depressa. Silvestre teve de esperar um bom pedaço e esperou com paciência. A mulher apareceu à porta:
- Estão aqui.
Trazia as calças dobradas no braço direito, um braço mais gordo que as pernas de Silvestre. E acrescentou:
- Não sei que fazes aos botões das calças, que todas as semanas desaparecem. Estou a ver que tenho de passar a pregá-los com arame…
A voz de Mariana era tão gorda como a sua dona.»